quinta-feira, abril 22, 2004

Orígenes I



Quando Orígenes nasceu, provavelmente em Alexandria, por volta do ano de 185, os cristãos constituíam ainda uma minoria no Império Romano. Filho de um mártir, Orígenes, ele próprio um mártir frustrado, era sem dúvida um brilhante pedagogo do caminho espiritual para Cristo, um verdadeiro teólogo «orientador de almas». A sua vida e a sua doutrina acerca da ascenção interior, gradual, da alma para Deus, indicam o caminho para uma experiência espiritual profunda. Assim, Orígenes torna-se modelo do monaquismo ascético.

O cerne da sua teologia foi a derradeira conciliação entre o cristianismo e o mundo grego, na qual Orígenes procurou associar a fé cristã à formação helénica. Mais do que uma cisão e uma mudança de paradigma, Orígenes uniu dois mundos aparentemente contraditórios. A teologia de Orígenes pressupõe o esquema platónico-gnóstico da queda e do retorno e da separação absoluta entre as ideias eternas e as suas aparências no tempo. Só seremos capazes de compreender o pensamento de Orígenes se tivermos em conta que, para ele, a questão da origem (da essência) do Logos, constitui o pano de fundo dos seus interesses teológicos, tal como para os gnósticos.