quinta-feira, julho 05, 2007

A Moral Teológica do Demónio

O demónio tem todo um sistema teológico e filosófico que sugere, a quem quiser ouvi-lo, que todas as coisas criadas são más, que todos os homens são maus, que Deus criou o mal e, portanto, quer que a humanidade sofra o mal. Segundo o demónio, Deus alegra-Se com o sofrimento dos homens e, na realidade, todo o universo está cheio de miséria, porque Deus assim o quis e concebeu.

(...)
Na realidade, ao criar o mundo, Deus já sabia claramente que o homem iria inevitavelmente pecar; era quase como que se o mundo fosse criado para que o homem pecasse e, assim, Deus teria a oportunidade de manifestar a sua justiça.

Deste modo, segundo o demónio, a primeira coisa criada foi relamente o inferno - como se tudo o mais existisse, em certo sentido, por causa do inferno. Por conseguinte, a vida religiosa dos "fiéis" a esta teologia consiste sobretudo numa obsessão pelo mal. Como se já não houvesse suficientes males neste mundo, multiplicam proibições e fazem novas regras, rodeando tudo de espinhos, de tal maneira que ninguém pode fugir ao mal e ao castigo. Gotariam de ver correr sangue de manhã à noite, embora com todo esse sangue não possa haver remissão do pecado! A Cruz, então, já não é sinal de misericórdia (porque a misericórdia não tem lugar em semelhante teologia), mas sinal de que a Lei e a Justiça triunfaram por completo, como se Cristo dissesse: "Eu não vim destruir a Lei, mas ser destruído por ela". Porque, para o demónio, é a única maneira da Lei poder real e plenamente ser "cumprida".

O pleno cumprimento da Lei não é o amor mas o castigo. A Lei deve absorver tudo, Deus inclusive. (...)

A teologia do demónio é para aqueles que, por qualquer razão, ou porque são perfeitos, ou por terem chegado a um entendimento com a Lei, já não precisam de misericórdia. Deus está "contente" com eles (mas que triste alegria!). O demónio também. Conseguiu plenamente agradar a todos!

As pessoas que ouvem semelhantes teorias, as bebem e se alegram com elas, começam a ficar com a ideia de que a vida espiritual é uma espécie de hipnose provocada pelo mal. Os conceitos de pecado, sofrimento, condenação, castigo, justiça de Deus, retribuição, fim do mundo, etc., são coisas que gostam de mencional com indizível prazer. Talvez porque experimentam uma profunda satisfação inconsciente ao pensar que muitas outras pessoas caem no inferno ao qual elas irão escapar. E como é que sabem que irão escapar? Não sabem dar uma razão precisa, excepto porque sentem uma certa impressão de alívio ao pensarem que esse castigo está reservado praticamente a toda a gente menos a elas.
Esse sentimento de complacência é o que elas denominam "fé" e constitui uma espécie de convicção de ser "salvas".

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O demónio não tem medo de pregar a vontade de Deus, dada a sua peculiar maneira de fazê-lo.

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Thomas Merton, Novas Sementes de Contemplação, Editorial Franciscana



Links para:

Programa do Markl, episódio Adelino de Sousa - O Arrebatamento da Igreja

O original

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É claro que este é o exemplo pateta... Mas sempre nos podemos rir a propósito, não? E lá que é peculiar... Lá isso...